Continuando o post anterior, este mostra quais são os versos elaborados. Eles são versos que para serem feitos, exigem um determinado domínio e compreensão das batidas da base instrumental, pois as rimas, nestes tipos de versos, ficam atreladas à batida.
Os versos elaborados são cinco:
- Verso Duplo;
- Verso Triplo;
- Verso Diagonal;
- Verso Trocado;
- Verso Poético.
Verso Duplo (elaborado)
Ao se acrescentar um segundo par de rimas em um verso simples, cada um em uma frase, cria-se um verso duplo. Ele espelha as rimas da primeira frase com as rimas da segunda frase. É uma boa técnica, que foge do lugar comum e torna o discurso mais ritmado. O verso duplo pode ser encontrado na maior parte das letras já compostas.
Armas frias apontadas¹ / rumo ao 121².//
Na deles não sou nada¹, / no inferno só mais um².//
(“Cair da Noite”, Fred/CRA)
E sigo em frente¹, / mantendo a corrente forte².//
O coração bate sempre¹ / sentido Zona Norte².//
(“Contexto”, Marcelo D2)
A representação gráfica do verso duplo:
___1___2
___1___2
Também é possível empregar não a segunda batida da frase, mas a terceira, para que a primeira rima (¹) se desloque para frente:
Quem se casou / quer criar / o seu pivete¹ / ou não2.//
Cachimbar / e ficar doido / igual muleque¹, / então2.//
(“Periferia é Periferia (em qualquer lugar)”, Edi Rock)
Mano! / Que loucura / te ver¹ / agora2.//
Há um tempo, / pá de tempo, / você¹ / foi embora2.//
Nossa chance / acabada, / era o fim³/ da fita⁴.//
Da parada, / da zueira / que aqui³ / se via⁴.//
(“Chances”, Sangue B.)
A representação gráfica, neste caso, seria ligeiramente diferente:
_____1_2
_____1_2
Verso Triplo (elaborado)
Continuando do raciocínio, podemos adicionar mais uma dupla de rimas ao verso, toralizando três duplas de rimas paralelas. Não é uma rima comum de se encontrar, principalmente se feita propositadamente. O mais comum é que ela acabe aparecendo em um verso por mero acaso, simplesmente devido ao acréscimo de rimas.
Minha mente¹ / a milhão², / cada vez / mais confusa³. //
Minha gente¹, / irmão², / cada vez / mais afunda³. //
(“O Sonho”, KLJay)
Não sei qualé / que pum¹, / qual que pá², / qual que foi³!//
Quemé quem / que dá um¹, / que não dá², / que dá dois³!//
(“Apelidado Xis”, Xis)
O gráfico que representa o verso triplo é bastante semelhante aos anteriores:
___1_2_3
___1_2_3
Verso Diagonal (elaborado)
Por vezes, em construções inusitadas de versos, surge uma oportunidade de manter a rima colocada na metade de uma frase com a rima colocada no fim de outra frase. É algo estremamente peculiar, já que a própria levada torna-se estranha ou diferente do convencional. Se feito errado, parecerá que o rapper colocou a rima no local errado, ou que está cantando errado sobre a batida.
Minha / condição / é sinistra¹. / Não posso //
dar rolê, / Não posso ficar / de bobeira / na pista¹!//
(“Soldado do Morro”, MV Bill)
O gráfico, neste caso, seria:
___1___x
___y___1
Esse lugar é um pesadelo / periférico¹!//
Fica no pico numérico¹ / de população.//
(“Periferia é Periferia (em qualquer lugar)”, Edi Rock)
Uma variação diferente da anterior:
_______1
___1___x
Verso Trocado (elaborado)
Pegue um verso duplo e troque a posição das rimas de uma das frases e você obterá um verso trocado. Muito incomum, ele ganhou força junto à Nova Escola do RAP Nacional (os grupos que baseiam seu estilo no freestyle e nas levadas não convencionais). Como Thaíde explica em sua letra “Fúria Verbal), a fórmula para este verso é “a segunda com a terceira, e a primeira com a última”. Ele até mesmo exemplifica dentro da letra:
Use bem o papel e caneta¹. / Olhe pra mim², //
pequeno aprendiz². / Aqui é muita treta¹.//
(“Fúria Verbal”, Thaíde e DJ Hum)
O gráfico é bem simples também:
___1___2
___2___1
Verso Poético (elaborado)
Raramente visto no RAP (salvo em refrões), este verso tem uma estrutura muito utilizada na poesia, onde o final de quatro frases rimam em uma seqüência 1-2-1-2. Pode ser visto como uma espécie de verso duplo, porém, com sua estrutura dividida em frases, e não em “metade de frases”. E diferente da maioria dos versos, ele encontra-se em quatro frases, e não em duas. O verso poético exige uma preocupação maior por parte do rapper, para que a rima fique aparente (mesmo que sua sonoridade torne-se comprometida e enfraquecida pela distância espacial entre as rimas). Se feito da maneira certa o que resulta é um verso elegante e criativo.
Pode por uma fé mano, / juro amor eterno a ela¹.//
Prometo dar um tempo / na balada e no rolê².//
Já bate uma saudade cabulosa / do Itaquera¹//
– dos manos tudo no apetite, / no proceder².//
(“Por Você”, Xis)
O gráfico para o verso poético se estende para dois versos ao invés de apenas um:
_______1
_______2
_______1
_______2